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Claro que não consigo dormir.. Tudo passa na minha mente. Tudo outra vez.. os dias que não terminam e as noites ainda mais longas que trazem receios maiores, aqueles em que não quero pensar mas penso. Uma angustia, uma impotência que não divido com ninguém, que vou carregar sozinha... falar para quê? Para me dizerem: não te preocupes, de certeza que não há-de ser nada.. Sim, será nada.. e há a outra hipótese de ser tudo. Prefiro guardar a tortura dos dias longos sozinha. E choro. Porque sempre odiei esperar, mesmo levando a vida a adiar a Vida. Se a dor tiver que chegar, que chegue depressa. Tenho ainda uma vida cheia de vidas para viver. Esperar é que corrói, corrompe, mata, fere, destrói. O não saber, a duvida, origina o vazio. Um vazio que só precisava de uma palavra que não chega, que não vem, que ninguem tem para me dar. Uma palavra que parece ser o segredo de uma vida inteira. Esperar cheia de duvidas.. Sei que estes dias vão parecer eternidades. Mas o que angustia não é o terror de dias que podem vir. É esperar por eles. E se cair ao saltar, quero que seja do topo do mundo, para ter a certeza que morro. Não quero cair de lugares pequenos. Só não quero ter medo, mas tenho. E a minha luta nestas horas sem fim é para não perder a coragem. Sei que quando ela me falhar já nada restará de mim. Sinto-me tão frágil.. Mas não quero ficar com esta tristeza.. o pensar nas coisas que não foram como se não houvesse hipótese de virem a ser. Como se todas as histórias lindas que não vivi e das quais sinto saudade, ficassem para sempre numa gaveta cheia de pó. Como se hoje pudesse ser o principio de nunca mais, o inicio do fim.. Soluço baixinho, abraço o meu corpo, embalo-me. Acho que só quero dormir. Deixar de sentir este latejar, esta agonia que me invade por medo. Quero acreditar que amanhã a vida será melhor..


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